O Varandim, seguido de Ocaso em Carvangel

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year_first_edition: 2012

Um canhão assombrando uma cidade. Um patíbulo armando de noite. Um istmo que conduz a uma cratera. Uma diligência cercada por cães selvagens. Nuvens de grifos imundos sobre o mar. A batalha sangrenta dos pescadores. Uma galeria de anarquistas, mais nobres que plebeus. A casa de Madame Ricciarda. A casa de Madame Musette. Dois jesuítas. Um padre que toca violoncelo. Um navio que não chega mais. Uma opereta com ecos de tragédia. Sol, luz, névoa e lua. Oito mulheres, amores, duplos, triplos e quádruplos. De como a vida engana a morte. Ou o inverso. Porque há em gente pacata uma apetência de morte tão grande? Porque é que nunca se regressa daquela viagem? Porque é que aquele navio não chega? Porque é que aquele canhão jamais dispara?

Morar numa cidade acidentada pode ser divertido quando se é novo e rampas e ladeiras convocam os músculos juvenis ao exercício. mas, á medida que a idade declina, aplica-se a cidade a lgrar os velhos. E sempre que eles retomam o fôlego no fio das esquinas, oferece-lhes ela mais caminho, tropeços e cansaços, como se os punisse por insistirem nos dias. Não é que o viúvo Zoltan Tremlich, com a idade, tivesse passado ao estado de ingratidão, com respeito à casa ampla, soberana de vista sobre a enseada, legado tardio duma parente longinqua. Mas começava a ter pena de que a falecida tia, que não era, aliás, uma bondade de mulher, lhe não houvesse antes deixado em testamento um modesto rés-do-chão na rua dos Lojistas, perto do cais e da praça, sobretudo do Clube dos Valenes de Paus, onde não era desgradável entreter umas tardes de doce subalternidade. Mas a bela cidade de Svidânia pontilhava-se nessa ocasião de soldados, raspando tacões e coronhas pelas calçadas, em passo cardado, desprezador dos transeuntes. Nesse preciso dia, sem prévio aviso, o almoxarife fora convidado para uma caçada ...

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Porto Editora

year: 2012

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