CAVALGADA HERÓICA, RUMO AO ROYAL
May 28, 2018MdC passou mais tarde ao liceu de Gil Vicente, o que representou um alargamento de horizontes abrangendo a Graça, a Senhora do Monte, Santa Clara, Alfama, Mouraria. As reminiscências dessas correrias até ao Castelo de São Jorge emergem em «Casos do Beco das Sardinheiras» e «O Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana».
Na Rua da Graça, o velho e elegantíssimo cinema Royal apresentava sessões duplas, não raro com um complemento de suculentos westerns em magnífico Technicolor. Ao invés dos outros cinemas, as sessões do Royal começavam às 15, 15H, com um quarto de hora de atraso para permitir aos rapazes do liceu, depois de uma correria ofegante, chegar a tempo à sala escura. Antes, numa dessas tardes, um padre levemente enfadado dava umas aulas sonolentas de religião e moral que tiveram a vantagem de trazer ao conhecimento as histórias da Bíblia.
Por essa altura, a frequentação dos cinemas de bairro, Royal, Lys, Rex, Imperial, tinha como limite, para além da zona Almirante Reis/Graça as mesadas e as restrições censórias. A revista de cinema «Plateia» rebrilhava de estrelas e starlettes, laboriosamente maquilhadas, em cores de verniz carregado. Um filme como «Escrito no Vento» de Douglas Sirk era para maiores de 18 anos; «Shane», de George Stevens, era para maiores de doze usava-se toda a espécie de batotas e subterfúgios para iludir a vigilância à entrada.