Contos Vagabundos

cedition: 2

year_first_edition: 2000

Estes contos são vagabundos porque não param de caminhar, percorrem as estradas do arco-da-velha, deambulam pelos recantos mais sombrios, mas também surgem à claridade do dia, marcham alegremente e intrometem-se, com ironia, nas tramas do nosso quotidiano. Pelo caminho, vão deixando o mundo às avessas, interpelando o leitor e desafiando-o para a aventura e para as perplexidades da vida e da literatura. 
O demónio também faz por aqui as suas andanças.  Insiste em pôr-nos um espelho na frente. 

Escrevo num computador instalado num móvel polido que tem uma prateleira que se puxa. Muito vulgarizados, tais móveis podem encontrar-se em qualquer loja informática das grandes. Menciono este dado pessoal porque ele estabelece o cenário de desconfortáveis ocorrências, há pouco mais duma hora, aqui no meu escritório. Possuir um móvel destes não é coisa de que alguém se gabe, e eu preferiria ocultar o facto, se não fosse necessário confessá-lo. Estava a premir a tecla F11, quando um homenzinho magro, de fato escuro completo e chapéu fora de moda emergiu atrás do teclado e começou a fazer esforços para se içar para o tampo superior, onde se agigantam monitor e impressora. Levantava os braços, numa gesticulação que me pareceu de­sesperada e dava grandes saltos, em cima da consola. Calçava sapatos ferrados que tiravam do plástico x sons fortes lembrando bicadas repetidas de catatua. Não foi esta a primeira vez que me vi assediado por per­sonagens. Acontecia-me, não raro, quando ia passear para o Jardim Constantino, depois do jantar, em certos plenilúnios. Saíam-me ao caminho por detrás das árvores e quase sempre eram mais altas e encorpadas do que eu. Algumas (…)

Checkbox ler: checked

ano: 0

9789720046406
Porto Editora

year: 2014

country: 0

#f1e7c8
#7f3f98
9789722113625
Caminho

year: 2000

country: 0